quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Seleção Modelo



Há dezessete dias, a equipe masculina de vôlei se sagrava tricampeã mundial, em Roma. Dotada de talento, com mais uma geração vitoriosa que passa na mão do extraordinário técnico Bernardinho, a equipe derrotou a anfitriã do torneio e maior rival nas quadras, Itália, e na final o jovem e forte time cubano. Apenas uma situação diferenciou essa trajetória quase impecável dessa seleção de Murilo, Leandro Vissoto, Bruninho e Cia, das outras duas conquistas, em 2002 e 2006. Um jogo perdido, de forma “suspeita”, incitou em toda a imprensa mundial, e principalmente na brasileira, uma série de julgamentos hipócritas e moralistas. Uma partida, contra a Bulgária, foi o suficiente para se colocar em dúvida todo o trabalho realizado pela excepcional equipe de vôlei.

O fato é que, no dia 4 de outubro, em jogo contra a seleção européia, válido pela segunda fase do torneio, o time de Bernardinho entrou em quadra com uma escalação mista, por “motivos óbvios”. Pura estratégia, de não se complicar na terceira fase do torneio, enfrentando equipes com maior tradição, mesclado com a necessidade de poupar jogadores, como os dois levantadores, Marlon e Bruninho. Essa decisão coletiva, ou seja, de toda equipe, foi a brecha que todos encontraram para massacrar os jogadores. Mas, com toda sinceridade, os comentários se mostraram oportunistas, potencializados pela comodidade que analisar uma situação, sentado na cadeira, com o microfone na mão, pode proporcionar.

Exaustivamente o tema “educação” surgia nas pautas dos programas de debate esportivo. Educação, de fato, não se faz ou deixa de fazer por uma simples estratégia adotada em uma competição. Educação, primordialmente, deve partir da família, da escola. Essa é a base necessária para um crescimento de forma “ética”. Quanto a se espelhar na equipe de vôlei, o verdadeiro exemplo, que é também é paulatinamente retratado, ai sim, de forma correta, em reportagens e nas falas dos jogadores, é o do treinamento, da repetição, do trabalho pesado em busca do sucesso. Isso sim, quando associado a imagem multicampeã da seleção, pode ser exemplo para um jovem.

Obviamente, o contexto é explorado de forma diferente por cada “variante” de mídia. No exterior, era óbvio o castigo que ia ser dado. Clara inveja e necessidade de diminuir o feito e a conquista do outro. E se intensifica quando esse outro é o campeão de tudo nos últimos dez anos. O que é verdadeiramente estranho foram as críticas nascidas daqui, com destino a Roma. Deixaram em segundo plano, simplesmente, que a fórmula de disputa foi criada claramente com o intuito de beneficiar os italianos, anfitriões da festa. E isso não é opinião, é um simples exercício de análise. Mesmo assim, com a derrota para a Bulgária, houve que torcesse contra a seleção amarela por conta disso. “Vexame”, “Vergonhoso”. O pior de tudo é que alguns jogadores acabaram entrando nessa “pilha”. Por sorte, ou melhor, talento e trabalho, a seleção foi novamente campeã, e aí, como já era de se esperar, as críticas foram amenizadas e o que é mais relevante no esporte, foi novamente citado, a bandeira do país hasteada no topo do ginásio, e o que é melhor, de forma justa e honesta. O Brasil não lesou ninguém, não machucou ninguém, nem levou nenhum tipo de vantagem no jogo, apenas se fez usufruir da regra, da mesma forma que a Sérvia e a Rússia já tinham feito anteriormente, e alcançou a Itália, com três títulos mundiais, jogando o que todos estão acostumados a ver

Volto a insistir que o bom exemplo de verdade, é ver jogadores bem articulados, conscientes do seu trabalho e ganha pão, dando “aulas” de vôlei no exterior, e melhor ainda, por aqui tambem, já que 10 dos 12 campeões mundiais vão jogar a superliga nacional, que já tinha um nível altíssimo. Isso evidencia o ótimo trabalho feito no esporte(Vôlei) na última década. Que esse planejamento e modelo sirvam de exemplo para o desenvolvimento de outros esportes. E que os rabugentos de plantão entendam de vez a verdadeira herança do esporte.